segunda-feira, março 07, 2005

Candomblé

Uma sensação que se tem na Bahia é a proximidade com África. Esta influência está bem patente ainda hoje na quantidade de mulatos e mulatas (creio que mais de 80% da população) que vemos nas ruas, na música, no artesanato com as suas estatuetas de madeira e na mitologia .
O Candomblé é a expressão máxima desta mitologia africana, onde existe um deus supremo (Olodumaré) que criou os orixás (deuses) para governarem e supervisionarem o mundo. O orixá é uma força pura e imaterial, a qual só se torna perceptível aos seres humanos manifestando-se num deles. É engraçado também verificar a forma como a mitologia africana interage com o catolicismo (cada orixá negro tem um correspondente num santo católico).
Verifiquei que a Bahia é muito isto: um misto de influências africanas e europeias, patentes, por um lado, nestas expressões culturais africanas e, por outro lado, na enorme quantidade de igrejas que se espalham por Salvador. Os colonizadores portugueses reprimiram o culto aos orixás, porque o viam como feitiçaria. Os escravos africanos fizeram então a associação dos orixás com os santos católicos, formando o sincretismo religioso de hoje.

Penso que para perceber a Bahia é preciso entender como estas influências se misturam e são vividas.

Antes de ir de viagem comprei um livro de Jorge Amado - Jubiabá - não só pela qualidade de escritor de Jorge Amado mas também como guia histórico-turístico da Bahia. O livro descreve na perfeição a vida difícil dos negros de Salvador no início do século passado. E as suas crenças e mitologias.

Jorge Amado, no capítulo Macumba de seu livro “Jubiabá”, relata uma festa na casa do pai-de-santo Jubiabá:

“Na sala estavam todos enlouquecidos e dançavam todos ao som dos atabaques, agogôs, chocalhos, cabaças. E os santos dançavam também ao som da velha música da África, dançavam todos os quatro, entre as feitas, ao redor dos ogãs. E eram Oxóssi, o deus da caça, Xangô, o deus do raio e do trovão, Omulu, o deus da bexiga, e Oxalá, o maior de todos, que se espojava no chão.

No altar católico que estava num canto da sala, Oxóssi era São Jorge; Xangô, São Jerônimo; Omulu, São Roque, e Oxalá, o Senhor do Bonfim - que é o mais milagroso dos santos da cidade negra da Bahia de Todos os Santos e do pai-de-santo Jubiabá. É o que tem a festa mais bonita, pois a sua festa é toda como se fosse candomblé ou macumba”.

Esclarece Jorge Amado: na porta da casa do pai-de-santo Jubiabá, negras vendiam acarajé e abará; antes da festa, fizeram o despacho de Exu, o qual foi perturbar outras festas mais longe.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro amigo,


É importante que se fale do Candomblé pois é uma religião com tradições muito antigas. A Bahía como referiu é a África onde ela não existe mais. O problema do escritor Jorge Amado é o sincretismo religioso: associação errada de santos católicos a Orixás do Candomblé.
Presumo que não saiba muito da nossa religião, e mesmo sabendo, convido-o a vir ao www.forafro.blog.com e ler sobre o candomblé e cultura afro-brasileira.
vale a pena partilhar pensamentos.

João Dias
estudante de comunicação social
Ògán de Candomblé Kétù