sexta-feira, novembro 24, 2006

mau tempo no canal

Margarida para lá dos cortinados e dos mognos do seu beliche, deixando ao marido a ilusão que estava nos braços de Morfeu, olhava fixamente para a rede do beliche de cima. E, apesar da veilleuse que arroxeava a penumbra do camarote, sentia-se cega ... cega como a serpente do anel que nehum ventre de peixe levaria a mesa humana e que àquela hora jazia, como a cucumária dos abismos,no mais secreto do mar.

Lisboa 7h25 PM de 21 de Fevereiro de 1944


Já é a segunda vez este ano que fico preso nos clássicos. Primeiro foi o Sumiço da Santa, agora o Mau Tempo no Canal. Ainda por cima o Mau Tempo no Canal aborda um tema apelativo: a vida nas ilhas açoreanas do grupo central, entre as vinhas e as baleias do Pico, as empresas de armações baleeiras do Faial, o ambiente rural de S. Jorge, etc..., pelo que é difícil entender o porquê.
A explicação deve estar no estilo barroco da escrita. Apesar de colocar em dúvida o brilhantismo de Vitorino Nemésio enquanto escritor, a sua pena aqui deixou um traço pesado (como se pode ver aliás no trecho em cima).

Andar semanas e semanas a 'mastigar' um livro não é experiência agradável porque a páginas tantas já parece obrigação, mas a obstinação de não deixar um livro a meio acaba sempre por ser mais forte.

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